(Im)Paridade entre os preços de combustíveis

27 de maio de 2022 3 mins to read
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Vamos abordar aqui o método Petrobras de aniquilar a concorrência por meio de subsídio de preço, sem que isso seja repassado ao consumidor.

Muito se fala sobre o atual discurso da Petrobras de adotar uma política de preços de paridade com o mercado internacional.

A empresa adota o discurso de que o controle de preços pertence ao museu de armas falidas de combate à inflação para justificar as variações no preço da gasolina e do diesel.

Esse discurso é frequentemente utilizado para bradar aos quatro ventos que o preço da Petrobras é definido de acordo com o mercado, especialmente quando a empresa se defende da alegação de que pratica preços abaixo do mercado, com intuito específico de lesar a concorrência.

O que o consumidor pode questionar?

O consumidor pode se questionar: se a Petrobras pratica um preço menor do que o cobrado no mercado, isso não é melhor para mim? A resposta é não.

Esse preço, subsidiado às custas dos acionistas da empresa, é totalmente destinado ao bolso das grandes distribuidoras (como Ipiranga, Raízen e Vibra Energia Ex-BR Distribuidora).

Na verdade, a Petrobras subsidia o lucro das grandes distribuidoras, em prejuízo do consumidor e dos concorrentes de mercado dessas empresas.

O intuito é acabar com a concorrência (que já é pouca), dominando completamente o mercado e, assim, colocando o preço no patamar que lhe aprouver. É utilizado o clássico método de dumping, refinado pelos experts da Petrobras.

Por didática, comecemos com a demonstração de como a Petrobras subsidia o preço para que o leitor compreenda como funciona esse sofisticado esquema de ataque à concorrência e prejuízo ao consumidor, ao tempo em que ela adota um discurso “pró-concorrência” e de “prática de preços de mercado”.

Preço da gasolina no mercado internacional

Se analisarmos os preços de janeiro a agosto de 2020, veremos que a Petrobras sempre tem uma perda mensal de R$ 700 milhões na gasolina e no diesel quando comparado ao mercado internacional (ela vende mais barato do que custaria importar).

Para fins de interpretação, exemplificaremos melhor o que acontece, sendo primeiro os apontamentos 1 e 2:

-(1) RBOB Tropicalizado significa o preço da gasolina do mercado internacional mais o frete até o porto de Santos;

-(2) A gasolina Petrobras Guarulhos é o preço vendido pela Petrobras às distribuidoras.

A Petrobras perde R$ 0,18 por litro na gasolina e R$ 0,13 por litro no diesel, considerando uma venda diária média de 52,400 m3/dia de gasolina (52,4mm de litros) e 97,000m3/dia (97mm de litros) de diesel.

Ou seja, a Petrobras tem prejuízo vendendo a gasolina ou o diesel, totalizando uma média mensal de R$ 700 milhões no negativo.

No entanto, se compararmos a evolução do preço do combustível na bomba, veremos que este subsídio não é repassado para os consumidores, mas, sim, “embolsado” pelas grandes distribuidoras, que ficam com todo esse benefício.

Para o mês de agosto, o prejuízo da Petrobras é ainda maior: R$ 930 milhões. Ocorre que, ao invés de cobrar R$ 3,08 por litro de diesel, as distribuidoras ficam com todo esse prejuízo da Petrobras e cobram R$ 3,40 por litro – é por isto que o repasse nunca chega ao consumidor.

Essa disparidade se mantém apenas porque o prejuízo na venda dos combustíveis – destinado a encher os bolsos das grandes distribuidoras – é suportado pelo lucro na atividade de exploração e produção de petróleo.