Qual a relação das vendas de ativos da Petrobras com as contas públicas?

27 de maio de 2022 3 mins to read
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Não é novidade que a Petrobras domina o refino brasileiro, detendo 98% do mercado, havendo, assim, um monopólio diretamente ligado ao risco de preços altos e baixa qualidade entregue ao consumidor final.

O anúncio da venda de ativos de refino da Petrobras pode parecer uma boa oportunidade para desengessar a concorrência. Porém, não é isso o que ocorre, e explicaremos o porquê.

Para entender melhor o cenário é de suma importância compreender como se emprega o termo crack spread nesse mercado.

Crack Spread

Na indústria petrolífera, o crack spread se trata da diferença de valores entre o petróleo bruto e os produtos dele retirados, como a gasolina, a nafta, o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), destilados leves, intermediários e pesados.

Esse é um dos métodos para se calcular a margem bruta de processamento do petróleo, considerando preço e quantidade de produtos provenientes da refinaria.

A proporção geralmente usada é X = Y + Z:

X: representa a quantidade de barris de petróleo bruto;
Y: representa a quantidade de barris de gasolina;
Z: a quantidade de barris derivados de óleo combustível.

Essa proporção é estabelecida em conformidade com a ascensão tecnológica e o tipo de cada parque de refino. No Brasil, a proporção mais utilizada é 2:1:1, ou seja, para cada 2 barris de petróleo, consegue-se extrair 1 barril de gasolina e 1 barril de diesel.

Processo do crack spread

Como o processo de refinaria implica comprar o petróleo e vender a gasolina e o diesel, a margem está na diferença entre esses preços, por isso o termo crack spread ou spread do crack.

O que tudo isso tem a ver com as vendas dos ativos da Petrobras?

Embora também haja outras variáveis, o crack spread está diretamente ligado ao preço final da venda de uma refinaria. Quanto menor for o crack spread, menor a sua margem.

E, por estarmos em um momento crítico quanto à margem do refino, devido à baixa demanda causada pela pandemia de covid-19, muitos grupos estão desativando suas operações diante da baixa margem do crack spread, chegando a quase metade da sua máxima histórica.

Concorrência do mercado petrolífero: existe uma solução para driblar esse monopólio a curto prazo?

Sim. Para um aumento saudável da concorrência, que está diretamente ligada ao benefício do consumidor, é necessária a fiscalização dos órgãos responsáveis quanto aos preços de revenda de derivados importados pela Petrobras.

Isso porque, no cenário atual, a estatal vende os produtos que importa abaixo do preço do exterior, o que acaba acarretando dificuldade na entrada de novos players internacionais.

Por isso, o discurso de marketing adotado pela Petrobras de que há grande benefício para seus acionistas na venda de suas refinarias não faz jus à realidade.

Quanto à possível vantagem da abertura de concorrência, também não há vantagens, visto que as refinarias da Petrobras foram construídas estrategicamente para não concorrerem umas com as outras, a fim de atender apenas ao mercado regional, impedindo que haja competitividade de mercado.