Não é novidade que a Petrobras domina o refino brasileiro, detendo 98% do mercado, havendo, assim, um monopólio diretamente ligado ao risco de preços altos e baixa qualidade entregue ao consumidor final.
O anúncio da venda de ativos de refino da Petrobras pode parecer uma boa oportunidade para desengessar a concorrência. Porém, não é isso o que ocorre, e explicaremos o porquê.
Para entender melhor o cenário é de suma importância compreender como se emprega o termo crack spread nesse mercado.
Na indústria petrolífera, o crack spread se trata da diferença de valores entre o petróleo bruto e os produtos dele retirados, como a gasolina, a nafta, o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), destilados leves, intermediários e pesados.
Esse é um dos métodos para se calcular a margem bruta de processamento do petróleo, considerando preço e quantidade de produtos provenientes da refinaria.
A proporção geralmente usada é X = Y + Z:
X: representa a quantidade de barris de petróleo bruto;
Y: representa a quantidade de barris de gasolina;
Z: a quantidade de barris derivados de óleo combustível.
Essa proporção é estabelecida em conformidade com a ascensão tecnológica e o tipo de cada parque de refino. No Brasil, a proporção mais utilizada é 2:1:1, ou seja, para cada 2 barris de petróleo, consegue-se extrair 1 barril de gasolina e 1 barril de diesel.
Como o processo de refinaria implica comprar o petróleo e vender a gasolina e o diesel, a margem está na diferença entre esses preços, por isso o termo crack spread ou spread do crack.
O que tudo isso tem a ver com as vendas dos ativos da Petrobras?
Embora também haja outras variáveis, o crack spread está diretamente ligado ao preço final da venda de uma refinaria. Quanto menor for o crack spread, menor a sua margem.
E, por estarmos em um momento crítico quanto à margem do refino, devido à baixa demanda causada pela pandemia de covid-19, muitos grupos estão desativando suas operações diante da baixa margem do crack spread, chegando a quase metade da sua máxima histórica.
Sim. Para um aumento saudável da concorrência, que está diretamente ligada ao benefício do consumidor, é necessária a fiscalização dos órgãos responsáveis quanto aos preços de revenda de derivados importados pela Petrobras.
Isso porque, no cenário atual, a estatal vende os produtos que importa abaixo do preço do exterior, o que acaba acarretando dificuldade na entrada de novos players internacionais.
Por isso, o discurso de marketing adotado pela Petrobras de que há grande benefício para seus acionistas na venda de suas refinarias não faz jus à realidade.
Quanto à possível vantagem da abertura de concorrência, também não há vantagens, visto que as refinarias da Petrobras foram construídas estrategicamente para não concorrerem umas com as outras, a fim de atender apenas ao mercado regional, impedindo que haja competitividade de mercado.